Diante de cenário tão complexo em saúde, muitas vezes desolador - como é a situação em uma Pandemia - há que se relatar, também, que há várias notícias consideradas bastante animadoras, quando elas, de fato, existem, e é este o caso.

Para além de uma panaceia, algo milagroso ou falsas promessas, aconteceram avanços científicos significativos no sentido da prevenção e do tratamento da COVID 19. Trata-se de estudos publicados recentemente e que foram realizados por instituições respeitadas no mundo científico, revelando tanto o curso final do desenvolvimento das vacinas, quanto uma grande positividade no tratamento medicamentoso da COVID 19 e o aumento da justificativa do uso da máscara. Vamos lá:

Em menos de seis meses depois do surto de COVID19 ser elevado a Pandemia pela OMS, laboratórios e centros de pesquisa nacionais e internacionais trabalham arduamente no desenvolvimento de vacinas (250 tipos), e de estudos (centenas), envolvendo prevenção e tratamentos diferentes.

Das vacinas desenvolvidas em âmbito mundial, as consideradas mais promissoras são três – uma britânica, uma chinesa e outra alemã, sendo que uma destas vacinas está sendo desenvolvida em território nacional e se encontra na fase final de pesquisa, com estimativa de dois a três meses para o início de sua fabricação em grande escala. Esta missão faz parte da parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac Life Science, do grupo Sinovac Biotech.

Na direção de um tratamento medicamentoso realmente eficaz, temos a publicação dos resultados do primeiro teste clínico randomizado que aponta desfecho positivo ao uso de glicocorticoide (Dexametasona), em pacientes internados. Este estudo, publicado pelo The New England journal of medicine, prova a diminuição da mortalidade em 1/3 dos pacientes em estado grave internados em UTI e diminuição das complicações em 1/5 dos pacientes em oxigenação, o que se considera números muito significativos na redução da mortalidade por COVID19.

Informação importante a ser observada neste contexto, é que esta droga (Dexametasona), já se encontra no mercado há vários anos e não há como apontar viés de interesse nestes estudos, uma vez que já é um princípio ativo com quebra de patente e se encontra em produção pela indústria de forma muito ampla, sem favorecimento deste ou daquele laboratório e, por ser um tratamento muito barato, será acessível ao mundo inteiro.

Porém, outra pesquisa, desta vez publicada pelo Journal of Hospital Medicine, aponta que a mesma substância glicocorticóide, não deve ser utilizada de forma precoce ou preventiva. Pelo contrário, os resultados apontam a piora do quadro dos pacientes não internados em UTI ou que não necessitem de oxigenação, uma vez que é sabido que este mesmo medicamento é contraindicado na ausência de quadro inflamatório.

Outro estudo, desta vez um estudo de coorte comparativo realizado na Suiça com 508 soldados predominantemente do sexo masculino e com idade até 21 anos, foi publicado pela Universidade de Oxford e teve como objetivo analisar a efetividade na prevenção da COVID19 através da estratégia do isolamento e do uso de máscaras.

Neste estudo, a população de soldados foi separada em equipes expostas ao vírus da síndrome respiratória aguda grave ( SARS-CoV-2) e mostram aumento do número de casos sintomáticos e evolução para complicação dos quadros de COVID19 em soldados não isolados e sem uso de máscara, ao contrário do menor número de infectados, doentes ou doentes graves apresentar-se muito menor na população exposta ao mesmo patógeno, porém em uso de máscara e isolamento.

Sendo assim, as informações para prosseguir-se em isolamento e uso de máscara como medidas protetivas, que são publicadas pelas instituições de pesquisa e saúde e veiculadas pela mídia, ainda são a forma mais segura de proteger-se do vírus ou de se desenvolver a forma mais grave desta doença, diminuindo consequentemente sua letalidade.

Autoria: Leila Mello Pioner (ESP-SES/SC)

 

Referências

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