Violência Contra a Mulher X Lideranças Femininas Durante a Pandemia

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            Segundo o documento “Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe: Dimensões de Gênero na resposta”, publicado pela ONU Mulheres, enfrentar uma quarentena é um desafio para todos, mas para mulheres em situação de vulnerabilidade pode ser trágico. No Brasil, onde a população feminina sofre violência a cada quatro minutos e em que 43% dos casos acontecem dentro de casa, essa preocupação é real.

No Brasil pré-pandemia, os índices de violência doméstica já eram bastante elevados: de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, a cada dois minutos uma mulher realiza registro policial por violência doméstica no país, o que totalizou, em 2018, 263.067 casos de lesão corporal dolosa. De acordo com o mesmo documento, em 2018, foram contabilizados 66.041 registros de estupros, ou seja, uma média de 180 casos por dia, dos quais 81,8% praticados contra mulheres ou meninas.

Estima-se que, no Rio de Janeiro e em São Paulo, o número de casos durante o período de confinamento tenha aumentado em 50% dado que pode ser ainda maior, eis que o isolamento social dificulta sobremaneira os registros de ocorrências nas delegacias de polícia.

Diante deste cenário de crescente instabilidade, são as mulheres que carregam os custos físicos e emocionais mais duros. Por decorrência de uma herança colonial e racista que sustenta os pilares da nossa estrutura de economia e trabalho ainda hoje, é gritante a disparidade de raça, gênero e classe. Assim, a maioria das mulheres no nosso país, principalmente mulheres negras, enfrentam uma realidade de enorme vulnerabilidade. Desta forma, ajustes que ajudem a evitar a exacerbação de desigualdades duradouras são cruciais à medida que nos recuperamos desta crise.

As respostas dos países à crise do coronavírus têm sido variadas e de resultados heterogêneos e em outras regiões do globo, que não o Brasil, a presença feminina se destaca de outra maneira, mas as condutas de maiores sucessos têm em comum governos chefiados por mulheres.

A Nova Zelândia, liderada pela primeira-ministra Jacinda Ardern, está entre algumas das nações mais eficientes no controle da pandemia, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, assim como Islândia, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Noruega e Taiwan. ‘Coincidentemente’, estes sete países são governados por mulheres e seis deles ocupam as primeiras posições entre os 144 do ranking do Relatório global sobre igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial (FEM).

Devemos resistir a tirar conclusões sobre mulheres líderes de alguns indivíduos excepcionais agindo em circunstâncias excepcionais. Mas especialistas dizem que o sucesso das mulheres ainda pode oferecer lições valiosas sobre o que pode ajudar os países a superar não apenas esta crise, mas outras no futuro.

por Leila Mello Pioner

 

Texto adaptado do artigo: MENDES, Janaína Dutra Silvestre. AS MULHERES A FRENTE E AO CENTRO DA PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS. 2020. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/metaxy/announcement/view/467. Acesso em: 06 out. 2020.

 

Referências

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019. São Paulo: Fórum brasileiro de segurança pública, 2019. Disponível em: <http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/03/Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf>. Acesso em: 16 maio. 2020.

G1. Monitor da Violência: Mortos por policiais no Brasil. Disponível em: <https://especiais.g1.globo.com/monitor-da-violencia/2018/mortos-por-policiais-no-brasil>. Acesso em: 16 maio. 2020.

KER, J. Assassinatos de pessoas trans crescem no Brasil, mesmo com quarentenaHíbrida, 4 maio 2020. Disponível em: <https://revistahibrida.com.br/2020/05/04/assassinatos-de-pessoas-trans-crescem-no-brasil-mesmo-com-quarentena/>. Acesso em: 16 maio. 2020

MARIANI, D.; YUKARI, D.; AMÂNCIO, T. Assassinatos de mulheres em casa dobram em SP durante quarentena por coronavírus. Folha de São Paulo, 15 abr. 2020.

ONU MULHERES. Gênero e COVID-19 na América Latina e no Caribe: Dimensões de Gênero na resposta. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2020/03/ONU-MULHERES-COVID19_LAC.pdf>. Acesso em: 15 maio.